terça-feira, 30 de março de 2010

Semana Santa

Neste Podmúsica, padre Donizete Heleno Ferreira, missionário da Comunidade Canção Nova e responsável pela liturgia, nos dá dicas de como viver bem a Semana Santa.
Estamos vivendo a Semana Santa, vamos meditar esta espiritualidade. Sabemos que a Semana Santa é um tempo de retiro, no qual nós recorremos ao silêncio, experimentamos Deus através da escuta da Palavra e do mergulho nas celebrações e na profundidade desse mistério. É um tempo de renovação, assim podemos experimentar o Senhor profundamente e ter a nossa vida transformada.

Que o Senhor possa conduzir você nesta grande semana. Você que exerce um ministério na Igreja, na sua paróquia, na comunidade, que você seja o primeiro a experimentar isso, você que vai cantar este mistério [pascal], que vai conduzir as celebrações e ajudar na pregação. Que o seu coração esteja aberto para receber este grande mistério desta grande semana que marca nossa caminhada cristã.

Que Deus o abençoe e lhe conceda frutos de graça e frutos de ressurreição na sua vida."


Bendita seja a Cruz

Gloriemo-nos também nós na Cruz do Senhor!
A Paixão de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é para nós penhor de glória e exemplo de paciência.

Haverá alguma coisa que não possam esperar da graça divina os corações dos fiéis, pelos quais o Filho Unigênito de Deus, eterno como o Pai, não apenas quis nascer como homem entre os homens, mas quis também morrer pelas mãos dos homens que tinha criado?

Grandes coisas o Senhor nos promete no futuro! Mas o que ele já fez por nós e agora celebramos é ainda muito maior. Onde estávamos ou quem éramos, quando Cristo morreu por nós pecadores? Quem pode duvidar que ele dará a vida aos seus fiéis, quando já lhes deu até a sua morte? Por que a fraqueza humana ainda hesita em acreditar que um dia os homens viverão em Deus?

Muito mais incrível é o que aconteceu: Deus morreu pelos homens.
Quem é Cristo senão aquele que no princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus: e a Palavra era Deus? (Jo 1,1). Essa Palavra de Deus se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14). Se não tivesse tomado da nossa natureza a carne mortal, Cristo não teria possibilidade de morrer por nós. Mas deste modo o imortal pôde morrer e dar sua vida aos mortais. Fez-se participante de nossa morte para nos tornar participantes da sua vida. De fato, assim como os homens, pela sua natureza, não tinham possibilidade alguma de alcançar a vida, também ele, pela sua natureza, não tinha possibilidade alguma de sofrer a morte.

Por isso entrou, de modo admirável, em comunhão conosco: de nós assumiu a mortalidade, o que possibilitou morrer; e dele recebemos a vida.
Portanto, de modo algum devemos envergonhar-nos da morte de nosso Deus e Senhor; pelo contrário, nela devemos confiar e gloriar-nos acima de tudo. Pois tomando sobre si a morte que nós encontro, garantiu total fidelidade dar-nos a vida que não podíamos obter por nós mesmos.

Se ele tanto nos amou, a ponto de, sem pecado, sofrer por nós pecadores, como não dará o que merecemos por justiça, fruto da sua justificação? Como não dará a recompensa aos justos, ele que é fiel em suas promessas e, sem pecado, suportou o castigo dos pecadores?

Reconheçamos corajosamente, irmãos, e proclamemos bem alto que Cristo foi crucificado por amor de nós; digamos não com temor, mas com alegria, não com vergonha, mas com santo orgulho.

O Apóstolo Paulo compreendeu bem esse mistério e o proclamou como um título de glória. Ele, que teria muitas coisas grandiosas e divinas para recordar a respeito de Cristo, não disse que se gloriava dessas grandezas admiráveis - por exemplo, que sendo Cristo Deus como o Pai, criou o mundo; e, sendo homem como nós, manifestou o seu domínio sobre ao mundo - mas afirmou: Quanto a mim, que eu me glorie somente na cruz do Senhor nosso, Jesus Cristo (Gl 6,14).

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo

quinta-feira, 25 de março de 2010

A Amizade

Aproveitando o aniversário de nosso querido irmão Luiz Gustavo, estou postando um texto sobre amizade


Amizade Cristã
"A amizade se realiza entre inúmeras e indispensáveis conquistas..."

Eclo 6, 1 – 17.
Como vemos, a amizade verdadeira é rara; dificilmente é autêntica. É necessário acolhe-la com vigilante preocupação, tentando vivê-la dentro de determinados requisitos virtuosos. Mas quando alguém encontra o amigo verdadeiro e fiel, encontrou uma riqueza inestimável, que torna delicioso viver.
"Há amigos mais queridos do que irmão" (Prov 18, 24).
A amizade cristã é capacidade nova de amar os homens.
A amizade cristã é comunitária por vocação, porque provém de Deus que é Pai de todos; porque é comunicada pelo Espírito de Cristo, que é o amor por todo vivente; porque foi inoculada no fundo do humano pela encarnação do Verbo; porque é purificada e amadurecida nos homens pela sacramentalidade do mistério pascal do Senhor.
Amizade de Davi com Jônatas ( I Sm 18, 1; 20, 17);
Amizade de Jesus com Lázaro, Marta e Maria (Jo 11, 5-11);
Amizade de Jesus com João evangelista (Jo 13, 23).

Diferença entre fraternidade e amizade

Existe diferença entre o amor que devemos ter uns para com os outros:
- dimensão fraternal (ágape – caridade devida a todos, que o Senhor ordenou que se tivesse até pelos inimigos)
- amor de amizade (diátesis – caridade de afeto, dirigida a pequeno grupo de pessoas, a saber, os que se acham unidos a nós ou por semelhança de costume ou por comunidade de virtude).

Mesmo amando a todos, a caridade escolhe alguns a quem deseja testemunhar ternura particular, e, até neste número de privilegiados, elege pequeno grupo, ao qual concede afeto ainda mais especial. Dentro da vida fraterna existem pessoas escolhidas por Deus para serem próximas, criar laços.

"O caminho da amizade é humilde e cotidiano; acrescentarei que é longo, que exige paciência e que a amizade digna deste nome não poderia existir entre irmãos sem passar por etapas dolorosas (...) A aprendizagem da amizade autêntica é aprendizagem que nos prepara para todo amor desinteressado". R. Voillaume.

Alguns princípios básicos:
- Temos que ter caridade fraterna com todos;
- As amizades são espontâneas.
- As amizades são construídas na liberdade, nunca devem ser forçadas, ou direcionadas.

Conceitos
Quem é o amigo?
- Amigo é quem ama acima de toda busca pessoal interessada ou utilitarista;
- Estar disposto a aceitar o outro como é.
- O amigo deseja oferecer-se com um dom ao outro;
- Sente o que o outro lhe corresponde com idêntico amor de benevolência: compartilha com ele idêntico afeto altruísta (sentimento de quem põe o interesse alheio acima do seu próprio), atenção recíproca, a alegria de sentir-se amado, é capaz de escutar as batidas do coração do outro;
- Os amigos não conhecem o amor narcisista, nem o amor solitário. Cada um deles acha agradável viver porque seu viver é conviver junto; porque cada um se sente acolhido na intimidade do outro, porque pensa e quer em sintonia com o outro; porque se descobre implicado na vida do outro. Os dois são “uma só alma em dois corpos”.
- É um sentimento fiel de afeição;
- É a partilha mútua de vidas movida pela fidelidade e sinceridade.
- É um tesouro que o Senhor nos deu. ( Eclo. 6,14 ).
- É Deus quem escolheu.
- Tem coragem de dar a vida.

Amigo não é:
- Aquele que sai conosco, que convive, mas, aquele que conhece e pertence a sua vida;
- Uma propriedade exclusiva;
- Aquele que sempre concorda com tudo.

Características da Amizade
A vida de amizade é estruturada por palavras, silêncios e atitudes. A palavra comunica e troca reciprocamente convicções e sentimentos interiores; os silêncios deixam na alma a certeza de sintonia profunda. É essencial que tantos as palavras como os silêncios e as atitudes não expressem ruptura do diálogo e do encontro, porém, favoreçam a continuidade profunda. A co-presença amistosa no silêncio propicia a experiência de sentir-se harmonizados nos mesmos afetos, de saber que não há necessidade de palavras para comunicar-se, que não existe o imperativo de proclamar-se amados para sentir o amor do outro, que o estar juntos proporciona a alegria de experimentar-se irmanados das profundezas.

A comunhão de amizade é a linguagem que se expande pela interioridade mais profunda e que logo depois aflora espontaneamente por palavras e gestos exteriores.

Outras características:
- Aprende-se a viver na amizade através de longa experiência de amores de amizade imperfeitos, sem que jamais consigamos expressá-las de forma perfeita e definitiva;
- Participação (comunicar para vida, até nas pequenas coisas);
-Testemunho de Deus em sua vida e na amizade – é preciso educar os cristãos para que reconheçam o Senhor através da experiência da amizade fraterna;
- Responsabilidade pelo crescimento do outro – cuidado, zelo;
- Orar juntos;
- Lazer, diversão (gastar tempo com o outro);


Vall Senna
Comunidade Recado

sexta-feira, 19 de março de 2010

Passos para a conversão

É TEMPO DE QUARESMA, TEMPO DE CONVERSÃO !!!

Com São José, queremos aprender e nos deixar transformar pelo Senhor. Esses dias, eu fiquei meditando sobre a graça da conversão, que nos é dada . Hoje, eu vou falar sobre sete passos para a conversão:

1 - Onde acontece a minha conversão? Onde eu estou.
Aconteceu aquele problema, aquela surpresa, mas Deus estava e sempre estará com você em todos os momentos. O lugar da sua conversão é o lugar onde você está agora, porque a seu lado está o Senhor. Não importa o problema e a dificuldade pela qual você está passando com algumas pessoas. Nada disso pode atrapalhar a sua conversão. Esta se dá onde você está, aí neste lugar, neste problema, nesta situação. Não queria resolver situações pendentes, para só depois buscar se converter. Quem pensa assim, sempre arruma uma desculpa para deixar a sua conversão para depois.
Não queira fugir da sua realidade, pois é nela que Deus quer realizar uma obra em sua vida. O Senhor está na situação em que você se encontra. Ele está na sua realidade. Não despreze nada que possa ajudá-lo a se converter, nem a dor, nem pessoas, nem situações. Aproveite de tudo isso, pois não existe nada que não possa ser utilizado por Deus para sua conversão. Dessa forma, por causa dela [conversão], não fixe os olhos nas pessoas e nas situações. Para o seu bem, para que ela ocorra, não se fixe nas pessoas. Não olhe para elas, olhe “através” delas. Pois a meta é a conversão!
Não pergunte onde Deus está. Acredite e proclame que o Senhor está com você!

2 - Nossa conversão é a ação do Espírito Santo em nós.
O que devemos fazer é tornar nosso coração sensível às moções do Espírito. A missão d’Ele é nos santificar, mas nós temos o coração fechado para escutá-las [moções d’Ele]. Por isso, precisamos abrir o coração aos apelos d’Ele. É preciso ser obediente ao que Ele nos fala. É necessário entrar na “escola da sensibilidade e da obediência”.

3 - Aceite que um caminho de transformação é uma “porta estreita”.
“Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram” (Mt 7, 13-14).
O mundo oferece caminhos e portas largas e tem feito a sociedade se acostumar com isso. Contudo, você precisa passar pela “porta estreita”, ela é o caminho que nos conduz à santidade. É necessário perceber “quem” ou “o que” é a “porta estreita da sua vida”, que faz com que você seja mais misericordioso, mais paciente, mais corajoso, entre outros. Mas muitos de nós queremos nos ver livres desse “caminho apertado” e dessa “porta estreita”. Jesus diz que poucos a encontrarão. E você? Já conheceu a sua?

4 - Quero realmente me converter? Quero realmente mudar de vida?
É preciso ter humildade para escutar o que pensam e o que falam de nós. Então, escute o que as pessoas têm a dizer sobre você e, diante de Nosso Senhor, pergunte: “O que há de verdade disso que estão dizendo sobre mim?” Pois, todos somos como um baú, que tem coisas boas e coisas ruins.
Quantas vezes, eu ouvi tantas coisas e voltei para casa chorando e, graças a Deus, chorei no colo da Eliana, minha esposa. Pessoas que me disseram, aqui, no pé da escada, que eu era autossuficiente, arrogante, etc. O que você escuta e o tira do sério é porque talvez possua um pouco de verdade. É tempo de mudança, e se você quiser mudar realmente, este é o tempo propício. Nosso Senhor espera de nós uma verdadeira conversão!

5 - Conversão é uma escolha que eu faço!
A sua conversão não é uma escolha de ninguém. É uma escolha muito pessoal. É você que quer mudar, que quer ser melhor, que quer ser de Deus. Portanto, a escolha é sua!

6 - O tempo da conversão é agora.
Nosso Senhor nos dá um tempo para a nossa conversão, e este tempo é agora. Neste momento, neste lugar. Aí onde você está, não existe outro lugar. Isso fundamenta o que eu lhe disse no começo da pregação: valer-se de tudo para a conversão.

7 - Converter-se pela oração. Retirar-se com Jesus.
Retire os olhos das pessoas, dos fatos. Você e eu precisamos aprender a ir mais para o “deserto” a fim de sermos transformados e abençoados. E assim nos converter com a oração e a meditação da Palavra de Deus.
Passe para outras pessoas esses sete passos. É tempo de conversão. Quem se converte, aproxima-se cada vez mais de Nosso Senhor Jesus Cristo. É preciso oferecer ao seu coração o que mais ele deseja e necessita: Nosso Senhor.
(Artigo extraído da pregação de março de 2007)
Ricardo Sá
Missionário da Comunidade Canção Nova

Salmo 125. Domingo 21/03 Sugestão CN

terça-feira, 16 de março de 2010

Artista da semana. Ministério Eterna Aliança

Um ministério que nasceu da palavra
Nós éramos um grupo de amigos com vocação à musica, mas que não estava exercendo o Ministério. Após assistir um show católico sentimos um chamado irresistível de voltar a tocar. Em oração, após um momento de escuta ao Senhor, recebemos as Palavras decisivas: Hb 8, 10-13

Era dia 07 de abril de 1999 e nascia, profeticamente, o Ministério Eterna Aliança.

Um ministério de música católica
Somos Católicos Apostólicos Romanos. Nascemos na Igreja e a servimos. Descobrimos nosso Dom dentro do Movimento da Renovação Carismática Católica, e é de acordo com a identidade do movimento que temos exercido nosso ministério.

Compromisso com grupo de oração
A célula fundamental da RCC é o Grupo de Oração. Como Ministério carismático, todas as semanas participamos do Grupo de Oração São José na Igreja São José, localizada na Av. Duque de Caxias n.º 520 no Bairro Fragata na cidade de Pelotas/RS. As reuniões são às segundas-feiras às 20:00h; no horário de verão o Grupo tem início às 20h15min.

Servindo à Diocese
Além de servir através da música, no Grupo de Oração e à RCC, nosso Ministério atende também à diocese de Pelotas. Acreditamos que a música tem o poder de atingir mais rapidamente o coração das pessoas, em especial os jovens que andam tão afastados da fé; sendo ela um eficiente instrumento de evangelização.

Em sintonia com outros ministérios, bandas e cantores
Com o ministério Eterna Aliança, temos acompanhado grandes nomes da música católica em shows e eventos católicos em todo território Nacional desde sua fundação. Em julho de 2005 lançamos nosso primeiro CD, tendo o orgulho de ser a primeira banda gaúcha a ser lançada pela CODIMUC, gravadora e produtora católica reconhecida nacionalmente.

Programas de TV e eventos carismáticos
Temos a alegria de participar com freqüência de programas de Evangelização exibidos pela TV. Um deles é o Celebrando Pentecostes apresentado por Ironi Spuldaro, aos domingos na TV Canção Nova.
Também temos tocado em eventos nacionais, como o Congresso Nacional da RCC e ECCLA (Encontro Católico Latino-Americano) de 2007, por ocasião da celebração dos quarenta anos de existência da RCC no mundo.

CD Em Tua Presença
Com o CD “Em tua presença” temos como objetivo despertar em quem escuta o desejo de estar na presença do Senhor; pretende suscitar uma busca incansável pelo céu. São 11 faixas totalmente inéditas, todas de autoria da própria banda, com exceção da música "Deus me ama", gentilmente cedida por uma grande compositora da música católica Ziza Fernandes. Ziza, além de nos ceder a canção, também faz uma participação neste CD, cantando esta música. As músicas do CD possuem letras voltadas para o resgate de valores humanos e para a necessidade que o ser humano tem de estar em comunhão com Deus.
O CD também conta com a participação do Pe. Fábio de Melo na canção "Em teu afago". Essa música expressa um momento de muita intimidade com o Senhor. A cantora Eliana Ribeiro, da Comunidade Canção Nova participa da música "Sacrário Teu". A letra é inspirada no “Diário da Misericórdia Divina em Minha Alma” da Irmã Faustina Kowalska.
Uma parte do CD foi gravado no estúdio Tríade em Pelotas/RS, realçando o cuidado com a qualidade e a tecnologia necessárias para a gravação do áudio. A outra parte da gravação, e a mixagem, foram realizadas nos estúdios da CODIMUC em Cachoeira Paulista/SP.

Novidade: Próximo CD
Já estamos com os preparativos para nosso próximo CD. Temos uma quantidade razoável de composições prontas, e a fase agora é de seleção e produção. Em breve teremos a alegria de apresentar nosso novo trabalho. O próximo CD vai manter o estilo do primeiro, com músicas que falam do ser humano e sua relação com Deus.
Às vésperas de completar 10 anos de caminhada como Ministério, exultamos de alegria ao confirmar que nossa Aliança realmente tem origem no coração de Deus. Desse júbilo, reafirmamos o compromisso que temos de cada vez mais usarmos nossos talentos a serviço da Evangelização. Desejamos que, através da nossa música, mais pessoas tenham a graça de sentirem-se amadas por Deus, e que tenham um encontro pessoal com Jesus Cristo, nosso Deus e Senhor, razão da nossa existência!


segunda-feira, 15 de março de 2010

Como conciliar Quaresma e Campanha da Fraternidade?

A Quaresma é um tempo forte de oração, penitência e caridade como exercícios de conversão, que nos preparam para viver a Páscoa, ressurreição e vida nova em Cristo Jesus. Inspirada nos quarenta anos em que o povo de Deus viveu no deserto se purificando para entrar na Terra Prometida e os quarenta dias em que Jesus viveu no deserto antes de iniciar Sua missão na vida pública. A oração, o jejum e a esmola são os elementos fundamentais da espiritualidade quaresmal, nós somos chamados – na Escuta da Palavra de Deus, na participação nos Sacramentos e na vida comunitária – a atualizar o mistério de Cristo e Sua salvação na vida da Igreja hoje.

Neste tempo de reflexão, cujo objetivo é a transformação da nossa vida, penso que numa espiritualidade que não gera vida e transformação não é autenticamente cristã. Não somente a minha vida, os meus interesses, mas o de todos, ou seja, o bem comum de todos os irmãos, a sociedade. A Campanha da Fraternidade reflete sobre a “Fraternidade e Economia”, tendo como lema: “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (cf. Mt 6,24). Suscitando em nós o debate sobre a economia e a fé em Deus a serviço do bem comum, por uma economia a favor da vida! Para rezar e fazer pensar na verdadeira finalidade do dinheiro e dos bens de consumo, do consumismo e do valor das coisas e da pessoa humana em relação ao bem material e ao relacionamento com Deus Pai.

O que é economia? É a ciência social que estuda a produção, distribuição e consumo de bens e serviços. O termo "economia" vem do grego "oikos" (casa) e "nomos" (costume ou lei) ou também gerir, administrar: daí "regras da casa" (lar) e "administração da casa".
"Dinheiro" vem do latim "denariu". Moeda corrente, valor representativo de qualquer quantia. Nome comum a todas as moedas. Numerário, quantia, soma. Todo e qualquer valor comercial (cheques, letras, notas de banco etc.).
"Servir" vem do latim "servire". Estar a serviço de; prestar serviços a: Servia um bom amo. Prestar serviços; ser servo ou criado: Fora contratada para servir. Ajudar, auxiliar, ser útil, servidor, benfazejo: Gostamos de servir os amigos. Servir a pátria; servi-la com a pena ou com a espada. "O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir" (cf. Mateus, 20, 28).
Em minha opinião o grande desafio, além de não esvaziar a espiritualidade da Quaresma, é permitir que os exercícios quaresmais e a vivência do Mistério de Cristo possam me converter para a prática da justiça e da paz. A nossa proposta, para viver neste tempo, é uma conversão que extermine em nós e ao nosso redor todo tipo de serviço e idolatria ao dinheiro, servindo a injustiça e a corrupção dos bens e da alma. Como faremos isso? Trabalhando em nós e na nossa casa, comunidade, trabalho e escola como nos servimos do dinheiro e dos bens, qual a nossa verdadeira relação, produzir uma economia a favor da vida e da justiça.
Nesta formação nós não podemos esquecer os valores primordiais da vida, da partilha, do respeito, da igualdade dos valores cristãos, pois cidadãos bem formados e firmes nas hierarquias de valores não se deixam vencer pelos mecanismos da injustiça, que gera corrupção. Provocar uma atitude positiva do Estado, ou seja, nos governantes para que todos tenham, com dignidade e trabalho, a satisfação de suas necessidades pessoais e comunitárias. Crescer no diálogo, promovendo a reconciliação, o perdão, que é uma virtude cristã, exercitar a capacidade de promover o outro nas suas qualidades e diferenças, ajudando-o a sair da margem de nossa sociedade, isso é caridade. Nos exercícios da Via-Sacra, nas celebrações, nos grupos de orações e círculos bíblicos, iluminando com a nossa fé os nossos compromissos cristãos.
Este assunto é muito complexo, mas acho que consegui pensar numa proposta para casar bem dentro de nós Quaresma e Campanha da Fraternidade:

A nossa proposta para viver este tempo é uma conversão que extermine em nós e ao nosso redor todo tipo de idolatria ao dinheiro, consumismo, desigualdade social para construir o homem novo e reconstruir o mundo, que sirva a Deus Senhor e Juiz da História.

Oração: Ó Deus criador, do qual tudo nos vem, nós te louvamos pela beleza e perfeição de tudo que existe como dádiva gratuita para a vida. Nesta Campanha da Fraternidade Ecumênica, acolhemos a graça da unidade e da conivência fraterna, aprendendo a ser fiéis ao Evangelho. Ilumina ó Deus, nossas mentes para compreender que a boa nova que vem de ti é amor, compromisso e partilha entre todos nós, teus filhos e filhas. Reconhecemos nossos pecados de omissão diante das injustiças que causam exclusão social e miséria. Pedimos por todas as pessoas que trabalham na promoção do bem comum e na condução de uma economia a serviço da vida. Guiados pelo teu Espírito, queremos viver o serviço e a comunhão, promovendo uma economia fraterna e solidária, para que a nossa sociedade acolha a vinda do teu reino. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.
Tenha uma santa Quaresma.

Padre Luizinho
Comunidade Canção Nova

sexta-feira, 12 de março de 2010

A música católica não é feita para fazer sucesso

O músico exerce uma função importante na liturgia e também nos momentos de louvor. O que precisa estar muito presente no coração dele é a dinâmica da espiritualidade. A espiritualidade do músico católico deve ser voltada para a experiência católica.

Um exemplo: um músico católico que não vai à Missa, deixa de ser um músico católico, porque ela é o auge da espiritualidade católica. Outra coisa que precisa ficar presente na espiritualidade do músico católico é a Adoração Eucarística, buscar Jesus na Eucaristia e todas as suas vertentes, como a intimidade com a Palavra de Deus.
Você, músico, conhece muito bem as fontes de inspiração. Quando a música brota da Palavra de Deus, ela tem uma eficácia sobrenatural, basta você musicar a Palavra pela inspiração, buscar a harmonia no coração de Deus e você vai ver como a música "pega". A Bíblia em si já traz vida, libertação e cura. Precisamos fazer uma experiência com a Palavra de Deus.

Algo importante também é a intimidade com o Espírito Santo, porque – em minha opinião, e creio que não seja só em minha opinião – isso é obra de Deus, pois a inspiração da música católica precisa vir do Espírito Santo.

Nós também não precisamos consultar harmonias da música secular para colocar na música católica. Pois, assim, perde em unção, perde em eficácia, porque o Espírito Santo é a criatividade por excelência. É Ele quem dá a criatividade, então, não há necessidade de buscá-la em outras fontes.

Há uma passagem do profeta Jeremias que diz: "Os grandes da cidade enviaram os servos à procura de água. Encaminham-se estes às cisternas; água, porém, não encontram, e voltam com os recipientes vazios, envergonhados, confundidos, cobertas as cabeças" (Jer 14,3). O povo estava deixando as águas puras para buscar água em cisternas vazias.

Isso é muito importante para que tenhamos consciência. Não deixe a "água pura", a fonte da Palavra, da Eucaristia, da experiência dos santos, do relacionamento pessoal com a Virgem Maria. Tudo isso é fonte de inspiração. Não busque em "cisternas" vazias! Deus fala a nós nessa Palavra e nos indica o caminho a seguir.

A música, então, precisa brotar da oração e não de um acorde secular. O acorde é Deus quem vai dar. Conheço muitos músicos e, partilhando com eles sobre o nascimento de uma música, sei que ela vem de um momento de oração e Adoração Eucarística.

A música católica não é feita para fazer sucesso. O sucesso que Deus quer são almas salvas, vidas transformadas, pessoas curadas! E a música tem este poder. Assim como tem o poder de fazer uma pessoa se embriagar, se drogar – como vemos, por exemplo, nas festas rave – ela tem o poder de transformar uma vida. Nós precisamos "virar a mesa", virar o jogo e apresentar uma música pura, que vem do Céu e transforma vidas.

Que Deus abençoe você e que Ele próprio o inspire. Não busque fora de Deus, porque só Ele tem a inspiração para o novo da sua canção.

Padre Roger Luis da Silva
Comunidade Canção Nova

Salmo 33. Domingo 14/03. Sugestão CN.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Economia e Vida

A paz de Jesus a todos, estou postando mais um texto sobre a CF 2010, é um convite a nossa reflexão sobre o texto e sobre essa linda campanha Ecumênica. Ainda estarei ao longo das semanas postando outros textos interessantes sobre o tema.

Já é auspiciosa uma Campanha da Fraternidade ecumênica. Ela mostra que é possível as Igrejas se entenderem em torno das questões importantes, que dizem respeito à vida. Uma campanha ecumênica começa fazendo o serviço de casa, advertindo as religiões que elas precisam se colocar a serviço da vida, se querem ter sentido e se pretendem ser acolhidas no seio da sociedade. Colocando-se em função das questões vitais, as religiões aprendem também a relativizar as diferenças, e a minimizar as controvérsias. A fé ilumina a vida, mas a vida motiva e direciona a fé.

Juntas, as Igrejas que compõem o Conic - Conselho Nacional de Igrejas Cristãs - se sentiram animadas a desafiar a sociedade brasileira a olhar de frente a economia, com a convicção de que ela pode ser pensada em função da vida de todos. Daí o tema da campanha: Fraternidade e Economia, com um lema que logo coloca o dedo na ferida: “não podeis servir a Deus e ao dinheiro!”, citando a frase contundente de Jesus.

O lema é, certamente, desafiador. Ele logo diferencia o absoluto do relativo. Só Deus é absoluto, o dinheiro não! E por derivação, nada é absoluto na economia, nem a pretensa imutabilidade de suas leis, como se apregoou nos tempos áureos em que o sistema econômico hegemônico no mundo parecia estar com a razão, com a verdade, e com o dinheiro.

A recente crise econômica mundial deixou bem claro que a economia precisa estar submetida a critérios que a regulem, a direcionem para suas verdadeiras finalidades, e a tornem viável e adequada às possibilidades reais que a condicionam e a fazem buscar sua racionalidade e sua função no contexto do mundo em que vivemos.

A primeira tarefa da campanha da fraternidade deste ano é desmontar a pretensa autossuficiência do mercado, expressão cabal do sistema econômico predominante nos últimos séculos. A economia é uma atividade humana, com profundas incidências na vida das pessoas, e que necessita ser guiada por critérios éticos, que lhe deem não só viabilidade prática, mas também finalidade e sentido humano.

Na verdade, o desafio é complexo. O seu enfrentamento precisa ser feito de maneira global e solidária. Repensar a economia mundial, para que ela se realize em sintonia com as exigências ecológicas e esteja a serviço da vida de toda a humanidade, não é tarefa a ser realizada por iluminados que detenham soluções mágicas ou arbitrárias. E um desafio que pede a participação adequada e responsável de todos. O tamanho do problema convida para uma postura de diálogo e de colaboração. A crise mundial da economia é oportunidade para despertar sentimentos de moderação e de busca coletiva de soluções. Já é apelo para a fraternidade.

Mas a campanha não se limita à dimensão macroeconômica, por mais importante que ela seja, e por mais que convoque os governantes para a busca de soluções. Pois a economia, além de sua evidente dimensão global, apresenta também aspectos práticos e cotidianos, que interferem diretamente na vida das pessoas. Por isso, faz parte dos objetivos da campanha explicitar as repercussões cotidianas da economia, para perceber como ela pode se tornar terreno propício para a prática da solidariedade.

Neste sentido, pode parecer estranho que uma realidade como esta, com tantas incidências humanas, tenha demorado tanto para ser abordada por uma campanha de fraternidade. Em todo o caso, agora a campanha chega num bom momento, favorecido pela abertura ecumênica e pela consciência ecológica.

Neste contexto, recebem motivação e interesse as experiências de economia solidária que poderão ser divulgadas. Em todo o caso, estamos diante de uma campanha com evidentes apelos globais, mas também com abundantes oportunidades concretas da prática da solidariedade no exercício da economia.
Um bom convite, que chega em boa hora!

Dom Demétrio Valentini
Bispo Diocesano de Jale

segunda-feira, 8 de março de 2010

Carnaval 2010 na Canção Nova



Amados leitores do nosso blog!

Em breves palavras gostaria de transmitir um pouco daquilo que vivi neste carnaval de 2010. Com a graça de Deus, eu e nosso tecladista Renan, acompanhados de nossas amadas namoradas, tivemos a oportunidade de passar aproximadamente cinco dias em Cachoeira Paulista (SP) no acampamento de carnaval da Canção Nova. Foi uma grande benção para mim. Como todos sabem, a conversão não é algo que se dá em um dia, mas um processo que dura a vida inteira. Entretanto, há dias muito marcantes nessa caminhada. Sem sombra de dúvida, o acampamento de carnaval está entre os dias mais significantes da minha conversão. Lá eu pude reavivar em mim a maior verdade da minha vida: Deus me ama! De tão óbvio isso já não me tocava tanto. Mas é a notícia mais sensacional que alguém pode receber, meu irmão! Deus te ama! E isso foi muito visível lá e continua sendo até hoje. Ele nos convidou a viver momentos de alegria verdadeira. Não a alegria do mundo, que acaba na quarta feira de cinzas. Não aquela alegria da bebida, da droga, do sexo ilícito. A alegria do Senhor. “e essa alegria ninguém tirará de vós!” (Jo 16, 22). Já dizia o grande músico Davi: “na tua presença há plenitude de alegria...”(Sl 16,11).

Nesta quaresma que já começou, irmão, Deus quer te convidar a viver 40 dias de conversão que culminarão no domingo mais alegre de todos. Até quando vamos cultivar nossos pecados de “estimação”? Até quando cometeremos os mesmos erros? “Diga por hoje não” àquilo que te afasta de Deus, que te impede de sentir a verdadeira alegria. Abra-se a esse Deus que te ama incondicionalmente e um novo homem nascerá!.

Luiz Gustavo

Integrante do CLJ e Ministério Luz das Nações.

quinta-feira, 4 de março de 2010

CAMPANHA DA FRATERNIDADE ECUMÊNICA 2010

As Igrejas Cristãs no Brasil, presentes no Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil – CONIC, apresentam a Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2010, com o tema Economia e Vida e o lema “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24).

Esta é a terceira campanha da fraternidade realizada de forma ecumênica, e tem como objetivo geral: “Colaborar na promoção de uma economia a serviço da vida, fundamentada no ideal da cultura da paz, a partir do esforço conjunto das Igrejas Cristãs e de pessoas de boa vontade, para que todos contribuam na construção do bem comum em vista de uma sociedade sem exclusão”.
É necessário conclamar a todos e todas para construir uma nova sociedade, educar essa mesma sociedade afirmando que um novo modelo econômico é possível, e denunciar as distorções da realidade econômica existente, para que a economia esteja a serviço da vida.

Nesta Campanha da Fraternidade Ecumênica, as comunidades cristãs são convocadas a deixar-se interpelas pelas palavras de Jesus:  “Não acumuleis para vós tesouros na terra, onde as traças e os vermes arruínam tudo, onde os ladrões arrombam as paredes para roubar. Mas acumulai para vós tesouros no céu.” (Mt 6,19-20a).
“Ninguém pode servir a dois senhores: ou odiará a um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt 6,24).
Toda a vida de Jesus foi um testemunho de simplicidade no uso dos bens materiais, de solidariedade com os pobres, de distribuição gratuita dos dons de Deus.

Que a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2010 nos estimule a compreender e vivenciar os valores do Reino de Deus, aacreditar que uma nova sociedade, mais justa e solidária, é possível, e a construir um modelo econômico em que a vida esteja em primeiro lugar.

Trecho Texto Base CF 2010
Site CNBB www.cnbb.org.br

Tempo de transfigurar-se ...

O tempo litúrgico da Quaresma é convite diário a preparar-se para a Páscoa do Senhor. É tempo de graça e salvação, propício para sair de nós mesmos, removendo tudo o que impede e retarda nossa transfiguração e conformação ao corpo glorioso de Cristo (cf. Fl 3, 21), pois o ideal de nossa transfiguração é Cristo.

Dias antes, Jesus havia dito a seus discípulos: “É necessário o Filho do Homem sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar” (Lc 9, 22). Agora, transfigurado, antecipa a glória de sua ressurreição.

Ao transfigurar-se, isto é, ao mudar de figura diante dos privilegiados discípulos, os mesmos que haviam presenciado a ressurreição da filha de Jairo (cf. Mc 5, 37), e que haveriam de ser as testemunhas da hora mais amarga e dolorosa de Jesus no Getsêmani (Mt 26, 36-46), Jesus confirma sua promessa de vida e de ressurreição.

Transparece no alto da montanha aos olhos de Pedro, Tiago e João o rosto glorioso que o Filho tinha no seio do Pai. Aos três amados discípulos foi concedida a graça de contemplar a divindade que em Cristo se escondia. Momento inefável e indescritível para eles poderem tocar com a fé e o coração os traços do rosto humano de Cristo transfigurado! Tão inefável que levou Pedro a dizer: “Mestre, é bom estarmos aqui” (Lc 9, 33). De fato, a transfiguração é um mistério de felicidade divina. Toda a fluência de alegria que jorra entre Pai e Filho e que é o próprio Espírito Santo, “transbordou” naquela ocasião do vaso da humanidade de Cristo.

A transfiguração é garantia de que, para além do que se vê, para além do sofrimento, do pecado, do mal e da morte, há um mistério de luz mais forte que o mal que se vê e se experimenta.

Para viver nosso peregrinar neste vale de lágrimas, não como frustrados ou desesperançados, mas com a certeza de chegarmos à Terra Prometida, é necessário transfigurar-nos e descobrir o eterno escondido no cotidiano de cada ação.

A transfiguração revela o nosso destino: fomos feitos para contemplar a face de Deus. Cada um de nós traz em seu íntimo o desejo ardente de ver a Deus e sua glória: “Mostra-me a tua glória!” (Ex 33, 18); “Buscai minha face” (Sl 27, 8); “Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta” (Jo 14, 8).

A transfiguração é um efeito direto da oração de Jesus, dialogando com o Pai, livre e amorosamente. Jesus “subiu à montanha para orar. Enquanto orava, seu rosto mudou de aparência” (Lc 9, 29). Orar é subir à montanha. A oração transfigura. Como vivência de fé, a oração dá às coisas e à vida o sentido pleno. Quem reza descobre novos caminhos, aclara dúvidas, elimina incertezas. Ajoelhados, vemos melhor. Também nós somos convidados a subir à montanha da oração, lugar de encontro e diálogo com Deus. A oração eleva nossa alma e introduz-nos na vida trinitária. Se a contemplação de Cristo tem por finalidade “transformar-nos naquele que contemplamos” - se também nós somos chamados a “transfigurar-nos” - , então a oração é o melhor caminho para consegui-lo. Se não é possível estar sempre no alto da montanha para orar, é possível... trazê-la para perto. Trazer uma montanha para dentro de nós não é ficção mental, pois “o Reino de Deus está dentro de nós”.

A nossa transfiguração acontece na fé. A fé é a luz que reveste de um brilho novo o rosto das coisas e da vida. Dá a tudo aquilo em que toca a divina transparência que a realidade espessa detém e oculta. Mas a fé que transfigura, rompe da nuvem de sinais e testemunhos, onde é preciso entrar de joelhos. De lá vem a voz que nos confirma e desperta para a caminhada decisiva. É preciso “escutar o Filho, o Eleito” (cf. Lc 9, 35), para conhecê-Lo cada vez mais para mais amá-Lo e mais segui-Lo.

Na medida em que contemplamos o mistério da transfiguração de Cristo, mais e mais nos tornamos semelhantes a Ele, mais conformamos a Ele nosso jeito de ser, de sentir e de amar.
Descendo da montanha da transfiguração, retomemos o caminho de cada dia; sejamos capazes de transmitir paz e serenidade aos que peregrinam rumo à Páscoa definitiva.

Jesus convida-nos a caminhar com Ele para a Páscoa. Sentimos o peso de nossos pecados, mas Ele pode vencer a dureza de nosso coração com seu olhar misericordioso. Enfim, rezemos: “Fazei-nos, Senhor, reviver a graça do Batismo que em Vós nos transfigurou. Assim, nosso coração transfigurado será agradável ao Pai e dom de amor aos irmãos e irmãs. Vossa graça renove todos os seres humanos, e todos sejam unidos à vossa oblação pascal, para alegria e glória do Pai”.

Dom Nelson Westrupp

segunda-feira, 1 de março de 2010

Quaresma, tempo de relacionamento

Pastoralmente, a quaresma tem uma linguagem própria, dentro do Ano Litúrgico. Situada no Ciclo da Páscoa, prepara os fiéis para a celebração do Tríduo Pascal - mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. A centralidade da Ressurreição de Cristo, que se expressa na alegria do Aleluia, se prolonga durante cinquenta dias, até chegar o dia de Pentecostes.

A preparação para uma celebração importante, num período mais longo, como Advento e Quaresma, ou numa Vigília, como a de Natal e Páscoa, tem uma significação especial na Liturgia. Assim, na preparação para a Páscoa, durante quarenta dias, a quaresma toca consciências e corações, movendo as pessoas na direção de Deus, do mundo e do próximo, mediante a oração, o jejum e a esmola; “essas três práticas atingem de modo profundo os três principais relacionamentos do homem: com Deus, pela oração, com a natureza criada, pelo jejum e com o próximo, pela esmola.” Na verdade, essas práticas sempre estiveram presentes na vida religiosa do povo, porém, muitas vezes, perderam sua razão de ser, por sua formalidade e exterioridade. Em diversas passagens do Antigo Testamento, os profetas dizem que Deus abomina esse tipo de prática exterior que não exprime um relacionamento sincero com Ele. Jesus, na Nova Aliança, exalta o valor da oração, do jejum e da esmola, mas também mostra a sua nulidade, quando, ao praticá-las, as pessoas buscam a sua autoexaltação. (cf Mt 6, 1-17) A Igreja, fiel ao ensinamento de Jesus, continua ensinando o sentido da oração, do jejum e da esmola na vida dos cristãos.

Pela oração, se estabelece o relacionamento entre criador e criatura; dessa maneira, o homem, saindo de si mesmo, mantém-se em comunhão com Deus; em oração, ele se vê numa relação de maior proximidade de Deus que, não obstante a sua natureza transcendental, se deixa encontrar. (cf Is 55,6) A quaresma favorece a vivência da oração das pessoas, em momentos silenciosos do seu dia, ou quando as comunidades cristãs se reúnem, comumente, em caminhadas penitenciais, na busca da conversão, do aprofundamento espiritual e do testemunho da caridade.

O jejum não consiste apenas na redução do consumo de alimentos; as pessoas privam-se deles por uma causa maior, o Reino de Deus, “sobretudo abstendo-se do pecado.” Ao abster-se da porção habitual de alimento, ninguém compromete a saúde e exercita a pedagogia do autodomínio, de que tanto necessita, em situações concretas. A natureza também favorece o encontro com Deus quando a pessoa, “fazendo uso dos bens terrenos”, entre os quais estão os alimentos, tem a sensação de segurança e de realização. Em face do alimento, uns cometem o pecado capital da gula, quando o consomem em demasia; nessa matéria, tem maior gravidade o pecado social dos “povos da opulência”, diante dos “povos da fome”, como ensina Paulo VI, na Encíclica Populorum Progressio: “Os povos da fome dirigem-se hoje, de modo dramático, aos povos da opulência.”

A esmola aproxima as pessoas entre si. Assim escreveu São Leão Magno, Papa, no século V: “São inúmeras as obras de misericórdia, o que permite aos verdadeiros cristãos tomar parte na distribuição de esmolas, sejam eles ricos, possuidores de grandes bens, ou pobres, sem muitos recursos. Apesar de nem todos poderem ser iguais na possibilidade de dar, todos podem sê-lo na boa vontade que manifestam.” Pelo gesto da esmola, cada um está se relacionando com Deus, de quem o necessitado é imagem e semelhança.

O bom senso haverá de distinguir o assistencialismo interesseiro de um doador da ação caritativa do esmoler, a conduta clientelista do político da iniciativa solidária da comunidade, a exploração do pedinte oportunista da situação do pobre necessitado.

A quaresma adquire seu real sentido quando é bem celebrada nas comunidades, como rito, e quando as suas exigências são devidamente observadas pelos cristãos.

Dom Genival Saraiva de França