sexta-feira, 30 de julho de 2010

O mundo do jovem

Atualmente, os jovens de uma forma geral conhecem a Internet; sabem as músicas da parada de sucesso; as gírias do momento; as roupas que estão na moda; os artistas que estão em alta; e alguns poucos, ainda sabem acerca de cultura, política; dentre outros assuntos que permeiam as notícias mais em voga. Isso reflete a era da tecnologia, da modernidade, da rapidez, da competitividade; aspectos tão presentes no nosso cotidiano e que nos ordenam cada vez mais conhecimento atualizado e nos implicam em uma rotina de inúmeras exigências para sermos pessoas “ideais”; mas ideais segundo quem?
Infelizmente muitos jovens não sabem nem porque se submetem a certos imperativos do mercado; sejam no nível de atitudes ou de aquisição de bens de consumo; e o pior, não sabem nem distinguir suas verdadeiras preferências pessoais e se pedirmos para falarem de si ou dizerem quem são, não sabem responder ou dão respostas vazias. Os jovens se encontram tão imbuídos na realidade imposta; quer seja pela mídia, moda, sociedade capitalista; que lhes escapam o limiar entre o que originariamente são, acreditam e gostam; do que lhes é apresentado como bom, agradável, correto, e etc.
Ou seja, conhecem o mundo de fora, mas sabem muito pouco de si, não conhecem o mundo de dentro. É comum entre os jovens a dificuldade de expressão dos seus sentimentos, de dizerem o que se passa dentro deles. O dia ‘corre’ muito rápido, são muitos afazeres: escola, faculdade, família, reuniões, academia, televisão, computador; tudo isso faz com que não se tenha oportunidade para parar e encontrar as verdades existentes dentro de si; e a vida superficial é o caminho trilhado constantemente, o qual traduz uma resposta de uma vivência inautêntica. O reflexo disso são as pesquisas que demonstram a grande eclosão de casos de depressão, anorexia, bulimia, fobia, dentre outras patologias que acometem numerosa parcela da população mundial, inclusive entre os jovens.
As pessoas não “gastam” mais tempo com os outros, porque consideram ‘perca de tempo’. As relações interpessoais são hoje, na sua maioria, vazias e artificiais. Perde-se muito ao não conviver com as pessoas, e assim, poder revelar o grande mistério que é a vida do outro e a sua própria vida, que se expressa e se diz nos relacionamentos onde há caridade e doação de si, algumas dentre as características de uma amizade verdadeira. Considerando, que me conheço mais e contemplo a Deus no outro.
O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar. (Catecismo da Igreja Católica, 27).
Encontrar o mundo de dentro é encontrar o tesouro inesgotável da presença de Deus, daquele que pode saciar nossa sede de amor, e nos restituir a verdade de quem nós somos. O que nos torna pessoas autênticas e livres para testemunhar, em um mundo marcado pelo pecado, com a ousadia própria dos ungidos pelo Espírito Santo.
O fato de ser de Deus não castra nossa juventude, nem nos exime de desfrutarmos da beleza contida na obras da criação divina, pelo contrário, nos lança nos relacionamentos saudáveis, em uma vivência legítima. Ser um jovem de Deus é poder viver com intensidade, sendo livre verdadeiramente, podendo optar pelo bem e não se deixar escravizar pelo pecado, pelas paixões desordenadas e nem pelo simples prazer momentâneo, tão característico do pecado. Um jovem cristão vive livremente olhando para a eternidade, para o que não passa, espelhando-se no mistério do Relacionamento Trinitário.
Só Deus não muda, e é esse amor que nos motiva a dizermos não as ocasiões de pecado; é esse amor que nos faz levantar sempre; que nos leva a testemunhar concretamente a benevolência divina; que não nos faz desistir quando nos deparamos com nossas próprias fraquezas, que tantas vezes paralisam a nossa evangelização, a evangelização maior que manifesta-se através da nossa fidelidade a Deus.
Quando tivermos a coragem de encontrar Aquele que habita em nós e a humildade de sempre buscá-lO na oração, muitos O encontrarão na nossa maneira de ser. Já diz o salmo bíblico: Alegre-se o coração dos que buscam o Senhor. (Sl 5, 3).
Se o homem pode esquecer ou rejeitar a Deus, este de sua parte, não cessa de chamar todo homem a procurá-lo, para que viva e encontre a felicidade. Mas esta busca exige do homem todo o esforço de sua inteligência, a retidão de sua vontade, um coração reto e também o testemunho dos outros, que o ensinam a procurar a Deus.

sábado, 24 de julho de 2010

Capacitados para servir

Pentecostes é uma graça constitutiva - “que faz parte” - do grande mistério pascal, pelo qual o Filho - o Verbo de Deus encarnado - obteve para nós a remissão de nossas faltas e a garantia de participação na vida eterna, na comunhão com a Trindade Santa, Deus tem um propósito especial e muito definido ao nos dar o seu Espírito Santo: tornar possível a continuidade da graça da salvação para todas as gerações que se sucedem à morte e ressurreição de Cristo (cf. DIM, 1; DeV, 22 e 67). “ Recebereis o poder do Espírito Santo e então sereis minhas testemunhas [...] até os confins do mundo”, nos esclarecia Jesus (cf. At 1,8). “Assim como o Pai me enviou, assim estou enviando vocês [...]: recebam (para isso) o Espírito Santo! E o que vocês perdoarem, estará perdoado (cf. Jo 20, 21-23). O Espírito, pois, nos é dado não apenas como “penhor da nossa herança” eterna (cf. Ef 1 13-14; Gl 4, 6-7, Ti 3, 5-7), mas também para que posamos testemunhar a respeito da obra de Jesus (cf. Jo 15,26-27). “... é missão do Espírito Santo também o transformar discípulos em testemunhas de Cristo” conforme nos recorda João Paulo II, em sua Encíclica Catechese Tradendae, n. 72.
O Catecismo da Igreja católica (n.683) nos diz que “sem o Espírito não é possível ver o Filho de Deus, e sem o Filho, ninguém pode aproximar-se do Pai, pois o conhecimento do Pai é o Filho, e o conhecimento do Filho de Deus se faz pelo Espírito Santo.” E Paulo VI, em sua Encíclica Evangelli Nuntiandi, n.75, nos ensina que “nunca será possível haver evangelização sem a ação do Espírito Santo [...] Ele é aquele que, hoje ainda, como nos inícios da Igreja, age em cada um dos evangelizadores que se deixa possuir e conduzir por ele, e põe na sua boca as palavras que ele sozinho não poderia encontrar, ao mesmo tempo que predispõe a alma daqueles que escutam, a fim de a tornar aberta e acolhedora para a Boa Nova e para o reino anunciado. As técnicas da evangelização são boas, obviamente; mas ainda as mais aperfeiçoadas não poderiam substituir a ação discreta do Espírito Santo. A preparação mais apurada do evangelizador nada faz sem ele.
De igual modo, a dialética mais convincente, sem ele, permanece impotente em relação ao espírito dos homens. E, ainda, os mais bem elaborados esquemas com base sociológica e psicológica, sem Ele, em breve se demonstram desprovidos de valor.” Ou seja, é possível ter-se uma abundância de programas, de planejamentos, de projetos, e até de boas intenções, mas se não levarmos em conta, de modo efetivo e experiencial (e não apenas com retórica sociológica e teológica) a participação livre e soberana do operar do Espírito, podemos fazer muito barulho e colher poucos resultados em nosso trabalho de evangelização. Quem não leva à missão os recursos do poder do Espírito, dá de si mesmo; e o que nós temos a oferecer é sempre pouco para tocar o coração dos homens - uma vez que a mensagem cristã contém elementos que vão além da simples capacidade de compreensão intelectual, racional, dos seres humanos.
Desde os primórdios da evangelização, Paulo ressaltava: “O nosso Evangelho vos foi pregado não somente por palavra, mas também com poder, com o Espírito Santo e com plena convicção. Sabeis o que temos sido entre vós para a vossa salvação” (1 Tes 1, 5). E mais: “Também eu, quando fui ter convosco, irmãos, não fui com o prestígio da eloqüência nem da sabedoria anunciar-vos o testemunho de Deus. Julguei não dever saber coisa alguma entre vós, senão Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado. Eu me apresentei em vosso meio num estado de fraqueza, de desassossego e de temor. A minha palavra e a minha pregação longe estavam da eloqüência persuasiva da sabedoria; eram, antes, uma demonstração do Espírito e do poder divino, para que vossa fé não se baseasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus” (1 Cor 2,1-5) O Concílio Vaticano II, em seu documento sobre o apostolado dos leigos (Decreto Apostolican Actuositatem, n. 3), advertia: “Impõe-se pois a todos o dever luminoso de colaborar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e acolhida por todos os homens em toda a parte.
Para exercerem tal apostolado , o Espírito Santo - que opera a santificação do povo de Deus por meio do ministério e dos sacramentos - confere ainda dons peculiares aos fiéis (cf. 1Cor 12,7), “distribuindo-os a todos, um por um, conforme quer” (1 Cor 12, 11), de maneira que “cada qual, segundo a graça que recebeu, também a ponha a serviço de outrem” e sejam eles próprios “como bons dispensadores da graça multiforme de Deus” (1 Pd 4, 10), “para a edificação de todo o corpo na caridade” (cf. Ef 4,16).
A obra da Salvação é uma obra de Deus. E para realizar e cooperar com a obra de Deus, precisamos do poder de Deus, conforme nos foi prometido e dado (At 1,8). Assim como é louvável buscarmos o mais frequentemente possível a comunhão com o Senhor na Eucaristia, de igual modo é salutar pedirmos ao Senhor que nos batize, que nos sature constantemente com seu Espírito, capacitando-nos adequadamente para a missão. Abrir-se, pois, ao Espírito Santo e aos seus dons e carismas é a forma concreta de nos deixarmos interpelar por Sua Palavra e respondermos com fé e generosidade ao chamado que Deus, privilegiadamente, nos fez em Jesus Cristo , pelo Espírito! Amém!

BESERRA DOS REIS, Reinaldo.Celebrando Pentecostes: fundamentação e novena. Editora RCC BRASIL. Porto Alegre-RS)

Experimente silenciar

Olá, galera! Paz e bem! Um dos grandes erros que cometemos, nos dias de hoje, no que diz respeito ao seguimento de Cristo e até mesmo ao exercício de alguma função é o não saber silenciar.
Você já parou para pensar como facilmente perdemos a concentração? Qualquer barulho, por mais simples que seja, nos tira o foco, chama a nossa atenção e nos desvia do objetivo.
Já não bastasse essa tendência natural, o mundo também tem nos estimulado nisso, pois tudo é muito “barulhento”: as músicas, os carros, a rua. Não “escutamos o silêncio”, não ouvimos a voz da natureza, não ouvimos nem mesmo o irmão que está ao nosso lado, que mora conosco, que trabalha no mesmo departamento, e ainda mais: não ouvimos a voz de Deus, que fala no silêncio. Já percebeu que quando chegamos em casa a primeira coisa que fazemos é ligar o televisor ou o aparelho de som?
Se não soubermos silenciar, não escutaremos a voz de Deus, não escutaremos o irmão, não escutaremos nem mesmo a nossa consciência, e é nesse ponto que o erro acontece, erro que pode modificar uma vida inteira.
Ah, como seria bom se aprendêssemos a silenciar, como fazem os monges, os eremitas, os santos, os estudiosos, os místicos! Homens e mulheres que se refugiam em locais especiais, que de especial estes têm o silêncio, a natureza, a solidão. E quando não há ninguém por perto encontramos a Deus, encontramos a nós mesmos, encontramos a todos.
O silêncio é a primeira canção que o ministro de música precisa ouvir. Saber conviver com a solidão é sinal de maturidade espiritual.
A princípio não é fácil lidar com o silêncio, temos dificuldades. Mas isso é de se esperar, pois não estamos acostumados. No entanto, com disciplina e perseverança, tornamos o que não é natural em algo espontâneo.

Experimente silenciar. Deus abençoe.
"Tamu junto"!
Emanuel Stênio
Missionário e músico da Canção Nova

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Está chegando a hora da miserícórdia na sua vida!



 
´´Fui me recordando de todos os momentos difíceis que eu e minha família passamos, de todas as vezes que fui livrada da morte, mas também das minhas quedas, dos meus pecados e tantos e tantos momentos que eu preciso reconhecer: Só mesmo a Divina Misericórdia para ter me ajudado a chegar até aqui.
A Misericórdia chegou na minha vida quando tinha 16 anos, no auge da revolta, rebeldia, drogadição e bebedeiras. Meus pais não sabiam mais o que fazer comigo, mas foi justamente nesta época que minha mãe encontrou refúgio em Deus através de um grupo de oração e conheceu por meio da equipe de intercessão o terço da misericórdia. Eu me lembro daquela devoção… todos os dias às três horas da tarde minha mãe em seu quarto repetindo: “Pela sua dolorosa paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro…” Eu sabia que aquela oração era dedicada a mim por causa de tudo o que eu fazia porém tinha um coração muito duro e ignorava.
Jesus tem um jeito misericordioso para nos alcançar e foi o que aconteceu comigo. Num encontro de jovens me decidi: abri meu coração, me rendi, não dava mais, se eu continuasse eu iria morrer e perder minha alma, a HORA DA MISERICÓRDIA CHEGOU NA MINHA VIDA! Depois daquele dia tudo mudou…
Quem está no pecado não consegue enxergar, sentir, experimentar o amor de Deus. Com certeza você conhece pessoas, inclusive da sua casa, que se encontram com o coração fechado, duro, rebelde, cativos pelo mal, vamos mudar isso? Vamos rezar por elas? Vamos clamar a Divina Misericórdia sobre a vida delas, vamos pedir que a HORA da Misericórdia se antecipe em suas vidas?``

Eliana Ribeiro - Com. Canção Nova

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O músico é chamado a movimentar a Igreja

Acreditamos que a palavra que transforma o coração pode produzir em cada pessoa uma melodia diferente. A intensidade da melodia é o coração que determina; o timbre é o coração que oferece. Harmonizando tudo isso, teremos uma canção de Salomão, uma canção de subida aos Céus.

Leia este pequeno fragmento do Salmo127, deixando o seu coração cantar por meio dele:

"Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a constroem. Se o Senhor não guarda a cidade, debalde vigiam as sentinelas. Inútil é levantar-vos antes da aurora, e atrasar até alta noite vosso descanso, para comer o pão de um duro trabalho, pois Deus o dá aos seus amados até durante o sono" (SI 127,1-2)

É Deus quem constrói a casa. É Ele quem edifica a Igreja, os movimentos e o seu ministério. Contudo, queremos nos deter na
ferramenta usada pelo Senhor para construir Sua obra.

No Antigo Testamento, Deus escrevia suas leis em tábuas. Porém, com a vinda do novo Adão, Nosso Senhor Jesus Cristo, o Todo-poderoso passou a escrever Suas leis em tábuas de carne, isto é, em nosso coração. A tinta usada por Ele é o Sangue de Cristo, e o pincel (ou seja, a ferramenta) é o próprio Espírito Santo. Sendo assim, podemos dizer que sem o Espírito Santo toda construção estaciona, por mais que o homem humanamente esteja correndo.

O músico é chamado a movimentar a Igreja, mas só conseguirá fazê-lo se estiver vivendo sob o movimento do dedo de Deus, ou seja, sob a ação do Espírito Santo. Deus usa o dedo do Espírito Santo para movimentar o coração do homem que, humildemente, se prostra, esperando, em primeiro lugar, amar e ser amado pelo construtor.

Tocar as notas de uma construção melódica já não é o mais importante. Nessa peça ou construção musical, o mais importante é estar com Deus, escutando o Músico dos músicos tocar, e assim, seguindo a partitura que o próprio Deus construiu, saber o momento de tocar e como tocar. Nessa obra, o essencial é silenciar o coração. É necessário muita atenção para não nos perdemos na grande partitura da vida.

Santo Agostinho nos ensina que o Espírito Santo é a "Alma da Igreja", e o que faz no corpo do homem, o Espírito Santo faz no corpo da Igreja. No Vaticano II foi salientado que o amor que se tem pela Igreja é diretamente proporcional ao amor que se tem pelo Espírito Santo, pois Ele é a alma da Igreja.

Daí, podemos explicar a negligência dos músicos para com a Igreja, isto é, esses músicos não possuem experiência com o Espírito Santo, consequentemente não amam seu ministério, através do qual participam do Corpo místico de Cristo, que é a Igreja. De fato, podemos dizer que nossa parte na construção da obra se encontra basicamente em viver sob o fogo do Espírito Santo.

O músico precisa pedir a efusão do Espírito Santo diariamente, para que o amor pela obra não se acabe. Devemos ser apaixonados pelo Espírito Santo e, consequentemente, apaixonados pela Igreja.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Voz da Igreja

O Papa Bento XVI assegurou que o século XXI "se abriu no sinal do martírio" e explicou que "quando os cristãos são verdadeiramente levedura, luz e sal da terra, tornam-se também, como Jesus, objeto de perseguição, sinal de contradição".
O Santo Padre visitou a Basílica romana de São Bartolomeu na Ilha Tiberina, com motivo do 40º aniversário da Comunidade de São Egidio, onde presidiu uma celebração da Palavra em memória das Testemunhas da Fé dos séculos XX e XXI.
Nesta entrevista assegurou que "a convivência fraternal, o amor, a fé, as tomadas de posição a favor dos mais pequeninos e pobres suscitam às vezes uma aversão violenta. Que útil é então olhar ao testemunho luminoso dos que nos precederam em nome de uma fidelidade heróica até o martírio!".
Meditando sobre o lugar, que lembra aos cristãos sacrificados pela fé, o Papa questionou: "por que estes mártires irmãos nossos não tentaram salvar a toda costa o bem insubstituível da vida? por que continuaram servindo à Igreja não obstante as graves ameaça e as intimidações?".
"Aqui sentimos ressonar o testemunho eloqüente daqueles que, não só no século XX, mas também desde os inícios da Igreja, vivendo o amor ofereceram no martírio sua vida a Cristo" e "lavaram suas túnicas branqueando-as com o sangue do Cordeiro", indicou.
Nesta última frase do Apocalipse, disse o Santo Padre, está a resposta ao porquê do martírio. A linguagem cifrada de San Juan contém "uma referência precisa à chama branca do amor que levou a Cristo a derramar seu sangue por nós. Em virtude desse sangue fomos purificados. Notando-se nessa chama, também os mártires derramaram seu sangue e se purificaram no amor".
Bento XVI recordou depois a frase de Cristo "Ninguém tem amor maior do que que dá a vida a vida pelos seus irmãos" e sublinhou que "tudas as testemunhas da fé vivem este "amor maior", conformando-se a Cristo e "aceitando o sacrifício até o final, sem colocar limites ao dom do amor e ao serviço da fé".
"Nos detendo diante dos seis altares que lembram aos cristãos cansados sob a violência totalitária do comunismo, do nazismo, aos assassinados na América, na Ásia e Oceania, na Espanha e México, na África, percorremos idealmente muitos acontecimentos dolorosos do século passado. Muitos caíram enquanto cumpriam a missão evangelizadora da Igreja; seu sangue se misturou com a dos cristãos nativos aos que tinham comunicado a fé", adicionou.
Do mesmo modo, o Santo Padre recordou que "outros, freqüentemente em condições de minoria foram assassinados por ódio à fé. E não são poucos os que se imolaram por não abandonar aos necessitados e aos fiéis que tinham sido confiados a eles sem temor a ameaças ou perigos. Estes irmãos e nossas irmãs na fé formam um grande afresco da humanidade cristã do século XX, um afresco das Bem-aventuranças, vivido até o derramamento de sangue".
"Aparentemente a violência, os totalitarismos, a perseguição, a cega brutalidade parecem mais fortes, sossegando a voz das testemunhas da fé, que aos olhos dos homens podem parecer derrotados pela história. Mas Jesus ressuscitado ilumina seu testemunho e assim compreendemos o sentido do martírio: o sangue dos mártires é semente de novos cristãos. Na derrota e na humilhação de quantos sofrem pelo Evangelho atua uma força que o mundo não conhece. É a força do amor, inerme e vitorioso, inclusive na aparente derrota. É a força que desafia e vence à morte", continuou o Papa.
O Pontífice finalizou sua homilia convidando aos membros da Comunidade de São Egidio a "imitar a coragem e a perseverança" dos mártires em "servir ao Evangelho, especialmente entre os mais pobres" e a ser "construtores de paz e de reconciliação entre os que são inimigos ou se combatem".
Fonte: Zenit.

A voz e a Palavra

João era a voz, mas o Senhor, no princípio, era a Palavra (Jo 1,1). João era a voz passageira, Cristo, a Palavra eterna desde o princípio.
Suprimi a palavra, o que se torna a voz? Esvaziada de sentido, é apenas um ruído. A voz sem palavras ressoa ao ouvido, mas não alimenta o coração.
Entretanto, mesmo quando se trata de alimentar nossos corações, vejamos a ordem das coisas. Se penso no que vou dizer, a palavra já está em meu coração. Se quero, porém, falar contigo, procuro o modo de fazer chegar ao teu coração o que já está no meu.
Procurando então como fazer chegar a ti e penetrar em teu coração o que já está no meu, recorro à voz e por ela falo contigo. O som da voz te faz entender a palavra; e quando te fez entendê-la, esse som desaparece, mas a palavra que ele te transmitiu permanece em teu coração, sem haver deixado o meu.
Não te parece que esse som, depois de haver transmitido minha palavra, está dizendo: É necessário que ele cresça e eu diminua? (Jo 3,30). A voz ressoou, cumprindo sua função, e desapareceu, como se dissesse: Esta é a minha alegria, e ela é completa (Jo 3,29). Guardemos a palavra; não percamos a palavra concebida em nosso íntimo.
Queres ver como a voz passa e a palavra divina permanece? Que foi feito do batismo de João? Cumpriu sua missão e desapareceu; agora é o batismo de Cristo que está em vigor. Todos cremos em Cristo e esperamos dele a salvação: foi o que a voz anunciou.
Justamente porque é difícil não confundir a voz com a palavra, julgaram que João era o Cristo. Confundiram a voz com a palavra. Mas a voz reconheceu o que era para não prejudicar a palavra. Eu não sou o Cristo (Jo 1,20), disse João, nem Elias nem o Profeta. Perguntaram-lhe então: Quem és tu? Eu sou, respondeu ele, a voz que grita no deserto: “Aplainai o caminho do Senhor” (Jo 1,19.23). É a voz do que grita no deserto, do que rompe o silêncio. Aplainai o caminho do Senhor, como se dissesse: “Sou a voz que se faz ouvir apenas para levar o Senhor aos vossos corações. Mas ele não se dignará vir aonde o quero levar, se não preparardes o caminho”.
O que significa: Aplainai o caminho, senão: Orai como se deve orar? O que significa ainda: Aplainai o caminho senão: Tende pensamentos humildes? Imitai o exemplo de João. Julgam que é o Cristo e ele diz não ser aquele que julgam; não se aproveita do erro alheio para uma afirmação pessoal. Se tivesse dito: “Eu sou o Cristo”, facilmente teriam acreditado nele, pois já era considerado como tal antes que o dissesse. Mas não disse; pelo contrário, reconheceu o que era, disse o que não era, foi humilde. Viu de onde lhe vinha a salvação; compreendeu que era uma lâmpada e temeu que o vento do orgulho pudesse apagá-la. (Sermão 293, 3: Patrologia Latina. 38, 1328-1329)