sábado, 26 de dezembro de 2009

Show Pe. Fábio de Melo em Porto Alegre




16/12/2009... Uma quarta-feira iluminada para a cidade de Porto Alegre... Eis que aqui chegava a presença tão esperada daquele que se intitula “o sacerdote das divinas causas”, nosso querido Padre Fábio de Melo. Cantadas com delicadeza e poesia, suas músicas falam do tempo, da efemeridade da vida, mas, principalmente, da natureza humana em confrontamento com o sagrado – admiração, deslumbramento, amor... A estrutura do show é relativamente simples: poucos instrumentos e músicos, alguns jogos de luzes, uma tela ao fundo do palco... Contudo, isso só aumenta mais a grandeza do espetáculo; pois o que prende a atenção dos espectadores não são os artifícios e efeitos, mas a luz que emana do olhar daquele que se encontra no centro do palco.
Ele sempre costuma dizer que o que mais o encanta em Jesus Cristo é a sua capacidade de amar aqueles que nós não amaríamos: os adúlteros, os ladrões, os assassinos... O que mais me encanta nele – o Padre – é a sua capacidade de sair de si, da posição de sacerdote, de homem consagrado, habituado às coisas do alto, para adentrar na sentimentalidade e racionalidade humana. Os dezesseis anos de formação, os oito anos de sacerdócio, não o afastaram de nossas dúvidas, medos e inquietações, mas o fizeram compreendê-las em profundidade... Quantas de suas músicas não transcrevem exatamente aquilo que sentimos frente a grandiosidade do amor de Deus? “Sou humano demais para compreender, humano de mais para entender...”
Embora a mídia faça questão de ressaltar muito mais seus dotes físicos e artísticos, deixando, por vezes, de lado sua mensagem e sua vocação; é o sacerdote sim que se sobressai em todos os momentos; levando ao extremo sua missão: levar-nos, nós leigos, a contemplação e comunicação com nosso Criador. Fiquei pensando nisso ao observar a plateia ao meu redor... Muitos ali não eram católicos, talvez nem fossem cristãos, talvez nunca tenham adentrado uma igreja, feito uma prece... E são estes que Cristo quer para si. “Não são os que estão bem que precisam de médico, mas sim os que estão doentes.” (Mt 9,12) Deus quer usar a sensibilidade e carisma deste homem, para tocar mais e mais corações, para abrir e dar mais visibilidade à nossa Igreja, ao Seu evangelho. Mais do que admirar, ouvir sua música, ler os seus escritos, temos que ORAR para que ele seja cada vez mais instrumento de nosso Deus. “O que vos falei ao pé do ouvido, publicai-o de cima dos telhados.” (Mt 10, 27)
Em uma de suas pregações durante o show, ele nos falou da incondicionalidade do amor de Deus. Contou-nos um fato que o marcou muito, quando ele ainda não era padre. Certa vez, quando estava em missão pela Pastoral Carcerária, ele encontrou uma velhinha, esperando para entrar em um presídio de segurança máxima, e perguntou o que ela fazia ali. Esta senhora lhe respondeu: “Vim ver meu menino.” Depois de fazer seus serviços e retornar ao pátio do referido presídio, ele viu ao fundo, num canto, aquela mesma senhora a afagar o resto de um homem enorme que chorava muito. Ele então perguntou ao carcereiro, que crimes tinha cometido aquele homem, ao que o carcereiro respondeu: mais de 60 mortes... Assim é o amor de Deus, ele nos disse. Não importa o que tenhamos feito, não importa que caminhos tenhamos seguido até o presente momento. Deus nos ama! Somos os meninos e meninas d'Ele... Através deste singelo, porém grandioso exemplo, ele tocou profundamente o meu coração... Só por esta palavra o show já teria valido a pena... Pois na correria cotidiana, na nossa constante pressa de resolver mil coisas, de construirmos nossa independência, nós esquecemos de olhar para o alto... Nos esquecemos que lá está nosso Pai, sempre de braços abertos para nos ajudar, nos ouvir, nos levar no colo... Esquecemos que somos “filhos do céu”.
Por fim, gostaria de destacar a convicção com que o Padre Fábio proclama cada palavra. Embora seu falar seja sereno, suave, transmitindo toda a paz que o Reino de Deus possui; embora ele constantemente problematize os limites do tempo e as nuances da alma humana; ele carrega no olhar, gestos e colocações tanta certeza, que nos levam a crer mais e mais neste Deus que foi capaz de cometer a loucura de morrer na cruz por cada um de nós.
Como diz uma de suas músicas – “Que Deus cuida de mim, quando fala pela sua voz, e me diz: Coragem!” – nesta noite de quarta-feira, o Padre Fábio de Melo, muito mais que cantar, teve sua voz utilizada por Deus, para tocar o coração de cada um dos que estavam ali presentes, a cada um dos meninos e meninas de Deus... Sobre o palco do Gigantinho, nesta quarta-feira, foi realizada “a liturgia que só o amor proporciona...”

A Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vocês!

Patrícia Gonçalves
- CLJ São Vicente Mártir -

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

É Natal!



"Alegremo-nos! Não pode haver tristeza no dia em que nasce a vida; uma vida que, dissipando o temor da morte, enche-nos de alegria com a promessa da eternidade".

Ninguém está excluído da participação nesta felicidade. A causa da alegria é comum a todos, porque o nosso Senhor, vencedor do pecado e da morte, não tendo encontrado ninguém isento de culpa, veio libertar a todos. Exulte o justo, porque se aproxima da vitória; rejubile o pecador, porque lhe é oferecido o perdão; reanime-se o pagão, porque é chamado à vida.

Quando chegou a plenitude dos tempos fixada pelos insondáveis desígnios divinos, o filho de Deus assumiu a natureza do homem para reconciliá-lo com o Criador, de modo que o demônio, autor da morte, fosse vencido pela mesma natureza que antes vencera.

Eis por que, no nascimento do Senhor, os anjos cantam jubilosos: Glória a Deus nas alturas; e anunciam: Paz na Terra aos homens de boa vontade(Lucas 2,14). Eles veem a Jerusalém celeste ser formada de todas as nações do mundo. Diante dessa obra inexprimível do amor divino, como não devem alegrar-se os homens, em sua pequenez, quando os anjos, em sua grandeza, assim rejubilam?

Amados filhos, demos graças a Deus Pai, por seu Filho, no Espírito Santo; pois, na imensa misericórdia com que nos amou, compadeceu-se de nós. "E quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, Ele nos deu a vida com Cristo" (Efésios 2,5) para que fôssemos n'Ele uma nova criação, uma nova obra de suas mãos.

Despojemo-nos, portanto, do velho homem com seus atos; e tendo sido admitidos a participar do nascimento de Cristo, renunciemos às obras da carne.

Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade. E já que participas da natureza divina, não voltes aos erros de antes por um comportamento indigno de tua condição. Lembra-te de que cabeça e de que corpo és membro. Recorda-te que foste arrancado do poder das trevas e levado para a luz e o Reino de Deus.

"Pelo sacramento do batismo te tornaste templo do Espírito Santo. Não expulses com más ações tão grande hóspede, não recaias sob o jugo do demônio, porque o preço de tua salvação é o sangue de Cristo (São Leão Magno, papa, Sermo in Nativitate Domini, 1-3).”

Na grande alegria do Natal do Senhor, compartilhemos a festa e seus frutos!

Natal feliz é Natal com Cristo!

Tenha um santo e feliz Natal!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Quer ser santo? Assuma que você é fraco!

É uma riqueza insondável este texto de São Paulo: II Coríntios 12,1-10. O apóstolo nos fala que, para seu espírito não se encher de orgulho e vaidade, foi lhe colocado um "espinho na carne".
Não é possível falar de crescimento humano se antes não falarmos de reconhecimento dos nossos limites. O bom treinador é aquele que vai saber salientar a qualidade do atleta, mas, sobretudo, vai saber encaminhá-lo para a superação dos limites. O primeiro passo é reconhecer em que nós precisamos melhorar. Contudo, esse é um grande desafio para todos nós, porque, lamentavelmente, as pessoas não estão preparadas para nos educar para a coragem. Sabe por quê? Porque muitas vezes os incentivos que nos são dados estão mais voltados para esquecermos as nossas fragilidades. Quando mostramos as nossas fraquezas há uma série de repreensões diante de nós.

Você já reparou que nós não deixamos a criança chorar? Já reparou que quando o recém-nascido chora, nós fazemos de tudo para calar a boca dele? Fazemos uma série de "caras feias" para ver se calamos a criança, para tentar espantar a fragilidade.
Nós, humanos, temos uma dificuldade imensa de lidar com a fragilidade do outro – ainda que seja filho da gente. Nós gostamos é de todo o mundo feliz! Não estamos preparados para encarar a fragilidade. Parece que a nossa educação está sempre voltada para nos revestir de uma coragem que nos faça esquecer nossos limites.

Ter coragem é descobrir onde está a nossa fragilidade e ali trabalhar com um empenho um pouquinho maior. É não desconsiderar o que temos de bom, mas é também colocar atenção naquilo em que ainda temos de melhorar. Estamos em processo de feitura. Não estamos prontos, não somos perfeitos, estamos por ser feitos, estamos sendo feitos aos poucos. E no processo de ser feito aos poucos nós vamos descobrindo onde é que dói “esse espinho” de que fala o apóstolo dos gentios. Esse espinho muda de lugar. Quanto mais uma pessoa está aperfeiçoada no processo de ser gente, tanto maior é a facilidade de conhecer limites.
Para você retirar um espinho, às vezes, é preciso deixar inflamar. É como se o seu corpo dissesse: “Isso não me pertence”. De qualquer jeito, nós temos de tirar aquilo que não nos pertence. Existem algumas inflamações do espírito, da personalidade, porque há pessoas que são tão aborrecidas que a gente não pode nem encostar nelas. São aquelas inflamações que se alastram.

E aí é que entra a grande contribuição do Cristianismo, numa proposta antropológica. Porque Deus não quer que você seja um “anjinho” na terra, mas que você deixe de ser “inflamado”! Ele quer lhe mostrar as inflamações para que você lute contra elas.
Cara feia, arrogância, tudo isso é complexo de inferioridade. Sabe qual é o “espinho”? O medo, a insegurança.
Você já fez a experiência de viver uma palavra que fizesse com que saísse tudo o que estava estragado em seu interior? Língua afiada quer dizer: deixar toda a inflamação que está dentro de nós vir para fora. Ter condições de deixar “vazar” aquilo que antes desconhecíamos é admitir e reconhecer que somos frágeis. A pior ignorância é aquela que finge que sabe! Temos medo de mostrar que não aprendemos, que somos frágeis. Quantas vezes na nossa vida, por medo, perdemos a oportunidade de aprender.

Muitas vezes, por medo de expor a nossa fragilidade, – porque parece que o mundo de hoje se esqueceu de mostrar a cultura do esforço que se fez para chegar aonde chegamos –, perdemos o direito de chorar. E por diversas vezes choramos e não sabemos por que estamos chorando.
O ensinamento de Jesus é sempre o avesso do avesso. Quer ser santo? Assuma que você é fraco. Muitas vezes, neste processo de se conhecer, nós sangramos. E nós precisamos sangrar. Um dos maiores poetas da música diz isso.

Quantas vezes você não se viu traduzido em uma canção de alguém que teve a coragem de sangrar, porque não teve medo de mostrar as próprias fragilidades?
Nós somos todos iguais. Nós músicos somos todos iguais. Não adianta fingirmos que somos fortes ou ficar fingindo que não sentimos nada e que não temos medo. Eu não sei se existem mais de cinco pessoas que conhecem os seus segredos. Para quantas pessoas você teve coragem de sangrar? Pessoas que o enxergam por dentro são raras.

Conversão é isso. É você educar o seu filho para que ele possa lhe contar onde estão os “espinhos”. O espinho não é o defeito, mas é a seta que nos mostra onde temos de trabalhar para que sejamos melhores.
A vida vai perdendo a graça porque não nos deixamos sangrar. A gente sangra melhor nos momentos de intimidade, nos quais a gente tem coragem de tirar a couraça. É muito melhor admitir que temos medo. Para as pessoas é sempre doloroso ter de tirar os “espinhos” e ver vazarem as inflamações.

Há tantas situações que nos deixam com o “coração na boca”. Muitas vezes, nós colocamos muito mais atenção naquilo que as pessoas acham de nós, do que no que nós pensamos de nós mesmos.
Examine-se, você é uma pessoa que consegue levar o outro à cura. Em última instância, o que vai sobrar de nós é a nossa vontade de amar. Vamos descobrir o que hoje em nós está "infeccionado", porque é preciso sangrar, é preciso reconhecer-se frágil.

Padre Fábio de Melo